22 de janeiro de 2015 • 14 min de leitura
#5 - Atomic Design no SVG - g, use, defs, symbol
Neste artigo iremos saber mais sobre a estruturação de um SVG, seus elementos, suas vantagens e um pouco de Atomic Design.
Índice da série
Introdução
Primeiro de tudo, aviso que o início deste post será praticamente uma tradução adaptada desse incrivel post da Sara Soueidan, que escreveu tão bem essa parte, que não vi justificativas plausíveis para escrever de outra forma. Claro que tentarei ser um pouco mais simplista com as palavras, para facilitar o entendimento de todos.
Ps.: não é preguiça, é porque acho essa mulher incrível e sou mega fã das grandes contribuições em SVG que ela traz <3
Neste post iremos abordar os elementos que dão uma melhor estruturação ao SVG, nos permitindo agrupar e referenciar partes do SVG dentro do documento, conferindo um código mais limpo, de melhor manutenção e com um código mais legível. É muito importante que prestem atenção a este assunto, já que ele contém a base principal para tudo que será feito e utilizado depois. Começarei utilizando o artigo da Sara como base e finalizarei divagando sobre um conceito que eu venho pensado bastante.
Agrupando com o elemento <g>
O <g>
vem da palavra group. Esse elemento serve para agrupar um conjunto de outros elementos relacionados. Em termos de editores gráficos, como o Adobe Illustrator, o elemento <g>
tem uma função similar a opção de agrupar objetos. Você também pode pensar no group num conceito similar a uma camada nos editores gráficos, visto que a camada é só um grupo de elementos.
O elemento <g>
agrupa todos os seus descendentes em um só grupo, mesmo que exista outro elemento <g>
interno a ele. É comum possuir uma id
para dar nome a todo um grupo e qualquer estilo que for aplicado ao elemento <g>
será aplicado em seus elementos internos. Isto torna fácil a adição de estilos, transformações, interatividades e até animações em um grupo inteiro de objetos.
Por exemplo, o seguinte pássaro é feito de algumas formas, como <paths>
e <circle>
.
Se você quiser mover o pássaro inteiro de um lugar para o outro no Illustrator, você também irá querer agrupar todos os elementos juntos, para não ter que selecionar cada parte toda vez que quiser mover.
Agrupar elementos no SVG funcionam da mesma maneira. Neste exemplo, nós agrupamos os elementos do corpo, os elementos da cabeça e então unimos os dois grupos em um grupo com a id
igual a bird
.
<svg width="1144.12px" height="400px" viewBox="0 0 572.06 200">
<style>
svg{background-color:white;}
#wing{fill:#81CCAA;}
#body{fill:#B8E4C2;}
#pupil{fill:#1F2600;}
#beak{fill:#F69C0D;}
.eye-ball{fill:#F6FDC4;}
</style>
<g id="bird">
<g id="body">
<path d="M48.42,78.11c0-17.45,14.14-31.58,31.59-31.58s31.59,14.14,31.59,31.58c0,17.44-14.14,31.59-31.59,31.59
S48.42,95.56,48.42,78.11"/>
<path d="M109.19,69.88c0,0-8.5-27.33-42.51-18.53c-34.02,8.81-20.65,91.11,45.25,84.73
c40.39-3.65,48.59-24.6,48.59-24.6S124.68,106.02,109.19,69.88"/>
<path id="wing" d="M105.78,75.09c4.56,0,8.84,1.13,12.62,3.11c0,0,0.01-0.01,0.01-0.01l36.23,12.38c0,0-13.78,30.81-41.96,38.09
c-1.51,0.39-2.82,0.59-3.99,0.62c-0.96,0.1-1.92,0.16-2.9,0.16c-15.01,0-27.17-12.17-27.17-27.17
C78.61,87.26,90.78,75.09,105.78,75.09"/>
</g>
<g id="head">
<path id="beak" d="M50.43,68.52c0,0-8.81,2.58-10.93,4.86l9.12,9.87C48.61,83.24,48.76,74.28,50.43,68.52"/>
<path class="eye-ball" d="M60.53,71.68c0-6.33,5.13-11.46,11.46-11.46c6.33,0,11.46,5.13,11.46,11.46c0,6.33-5.13,11.46-11.46,11.46
C65.66,83.14,60.53,78.01,60.53,71.68"/>
<path id="pupil" d="M64.45,71.68c0-4.16,3.38-7.53,7.54-7.53c4.16,0,7.53,3.37,7.53,7.53c0,4.16-3.37,7.53-7.53,7.53
C67.82,79.22,64.45,75.84,64.45,71.68"/>
<path class="eye-ball" d="M72.39,74.39c0-2.73,2.22-4.95,4.95-4.95c2.73,0,4.95,2.21,4.95,4.95c0,2.74-2.22,4.95-4.95,4.95
C74.6,79.34,72.39,77.13,72.39,74.39"/>
</g>
</g>
</svg>
Se você muda a cor de preenchimento do grupo #body
, a cor de preenchimento de todos os elementos dentro do grupos irão mudar para a cor escolhida. Isto é muito conveniente.
Agrupar elementos é muito útil, não só para própositos organizacionais ou estruturais. É particularmente útil quando você quer adicionar interatividade ou transformações em um gráfico SVG feito de muito elementos. Você pode associar estes elementos em um grupo e definir transformações para mover, redimensionar ou rotacionar todos os elementos juntos, dessa forma as relações espaciais de um para o outro se mantém.
Se você quiser redimensionar o pássaro para duas vezes o seu tamanho, você poderá fazer isso com uma linha de CSS se todos os elementos estiverem no mesmo grupo.
#bird {
transform: scale(2);
}
Agrupar faz a interatividade, em particular, mais conveniente. Você pode colocar eventos de mouse para todo o pássaro e ter a resposta a esses eventos em todo grupo.
O elemento <g>
tem mais uma importante característica: ele pode ser o seu próprio <title>
e <desc>
, que ajudam na acessibilidade aos leitores de tela, e sobretudo faz o código mais legível para os humanos. Por exemplo:
<g id="bird">
<title>Pássaro</title>
<desc>A imagem de um pequeno e fofo pássaro verde com o bico laranja.</desc>
<!-- ... -->
</g>
Reutilizando Elementos com o <use>
Aviso: preste bastante atenção a esse tópico, pois será um dos mais importantes e utilizados no resto da série.
Muitas vezes, existem elementos que são repetidos no desenho. Se você estiver trabalhando com o Illustrator e você quiser repetir algum elemento no desenho, você vai copiar o elemento e colar aonde quer que fique. Copiar e colar um elemento é muito mais conveniente do que precisar recriar o elemento do zero.
O elemento <use>
permite você reutilizar elementos existentes, dando uma função similar ao copia-cola dos editores gráficos. Ele pode ser usado para reutilizar um elemento único ou um grupo de elementos definido pelo elemento <g>
.
O elemento <use>
pega os atributos x, y, altura e largura, e então referencia esse conteúdo utilizando o atributo xlink:href
. Portanto se você tiver um grupo em algum lugar definido por uma id
e você quiser reutilizá-lo em algum lugar, você irá colocar essa URI em um atributo xlink:href
e especificar a posição x e y que o ponto (0,0) desse novo grupo deverá ser movido.
Por exemplo, se nós estivermos criando um outro pássaro no nosso SVG, nós poderemos reutilizar o pássaro existente, da seguinte forma:
<use x="100" y="100" xlink:href="#bird" />
Perceba que você pode referenciar qualquer elemento SVG dentro do atributo xlink:href
, até mesmo se o elemento for de um arquivo externo. O elemento referenciado ou grupo não precisa estar no mesmo arquivo. Essa é uma grande forma de organizar arquivos (por exemplo, você pode ter um arquivo para componentes reutilizáveis) eu ouvi um Atomic Design irmão?
Se o pássaro do nosso exemplo, estivesse em um arquivo separado chamado animals.svg
, por exemplo, nós poderíamos referenciar da seguinte forma:
<use x="100" y="100" xlink:href="pasta-do-arquivo/animals.svg#bird" />
Porém, referenciar SVG externo no <use>
não funciona no IE grandes novidades, browser de bosta. Tem um artigo do Chris Coyier que fala em detalhes e mecanismos de fallback.
Alguns detalhes sobre o <use>
que são importantes. Como dito anteriormente a movimentação do novo grupo é feita tomando como referência o ponto superior esquerdo (0,0), o que não foi dito é que essa relação é feita tomando como referência o ponto do objeto original. Como no exemplo abaixo:
<use xlink:href="#bird" transform="translate(100, 100)" />
O fato de a movimentação ser feita tomando o elemento original como referência não é uma coisa muito boa. Outro pequeno problema é que o elemento copiado pelo <use>
terá sempre os mesmos estilos que o elemento original, portanto, se rotaciornarmos o elemento original, o elemento copiado também irá rotacionar.
Isso acontece, pois o elemento <use>
reutiliza um elemento que já foi renderizado. Mas e se quisermos definir um elemento sem mostrá-lo inicialmente e então desenhar somente nas posições que queremos e com diferentes estilos? Aí que nasce o mais importante companheiro do <use>
, o elemento <defs>
.
Reutilizando Elementos guardados com o <defs>
O elemento <defs>
pode ser usado para guardar conteúdo que não será diretamente mostrado. Em outras palavras, o elemento <defs>
é usado para definir elementos sem renderizá-los. Ele guarda esse conteúdo escondido, que pode ser referenciado e mostrado por outros elementos do SVG, o que o torna ideal para conter desenhos reutilizáveis (olha o Atomic Design sendo pensado novamente).
Então, utilizando o <defs>
nós podemos definir um elemento que queremos usar. Esse elemento pode ser qualquer coisa, um grupo de elementos como o pássaro anterior, um recorte, uma máscara ou um gradiente linear. Basicamente, qualquer coisa que queiramos definir e guardar para usar depois, pode ser definido dentro do elemento <defs>
, e esse elemento irá servir como um template para uso futuro. Esse template nunca será renderizado, só as instâncias dele que serão mostrados.
O seguinte exemplo mostra um gradiente SVG sendo definido e então sendo utilizado como preenchimento de um retângulo:
<svg>
<defs>
<linearGradient id="gradient">
<stop offset="0%" style="stop-color: deepPink"></stop>
<stop offset="100%" style="stop-color: #009966"></stop>
</linearGradient>
</defs>
<rect stroke="#eee" stroke-width="5" fill="url(#gradient)"></rect>
</svg>
Definindo o gradiente linear dentro do elemento <defs>
garante que o gradiente não será renderizado até que ele seja referenciado em algum lugar que seja necessário.
Na seção anterior nós mencionamos 2 problemas do elemento <use>
:
- A posição do novo elemento ser relativa ao elemento original.
- Os estilos do elemento original não poderem ser modificados nas cópias individuais.
Isso, em adição ao fato que o elemento só pode ser reutilizado se o original já estiver renderizado.
Todos esses problemas podem ser evitados usando o elemento <defs>
. Não só o objeto original não está renderizado, como quando você quiser reutilizar um elemento dentro do <defs>
, a posição que você irá especificar será relativa a origem do sistema de coordenadas e não relativo ao elemento original (o que faz mais sentido, já que o elemento original nem está renderizado).
No exemplo seguinte temos uma árvore. A árvore é feita de um caule e um grupo de folhas. As folhas são agrupadas em um grupo com a id="leaves"
, e então esse grupo é agrupado com o caule em um grupo com id="tree"
.
<svg width="500.79px" height="200px" viewBox="0 0 500.79 200">
<style type="text/css">
#leaves{fill:#8CC63F;}
#bark{fill:#A27729;}
</style>
<g id="tree">
<path id="bark" d="M91.33,165.51c0,0,4.18-27.65,1.73-35.82l-18.55-25.03l3.01-2.74l17.45,19.87l1.91-37.6h4.44l1.83,24.53
l15.26-16.35l3.27,4.36l-16.07,19.34c0,0-2.72,0-1.09,19.34c1.63,19.34,3,29.7,3,29.7L91.33,165.51z"/>
<g id="leaves">
<path class="leaf" d="M96.97,79.07c0,0-14.92,4.34-23.52-14.05c0,0,19.4-7.98,24.37,11.9c0,0-9.68-3.57-13.07-6.73
C84.75,70.2,91.82,77.99,96.97,79.07z"/>
<path class="leaf" d="M74.07,100.91c0,0-15.94-1.51-17.2-22.39c0,0,21.62-0.27,18.83,20.66c0,0-7.92-7.1-9.97-11.41
C65.73,87.77,69.55,97.92,74.07,100.91z"/>
<!-- ... -->
</g>
</g>
</svg>
E teremos uma árvore igual a desenhada abaixo:
Se quisermos colocar esse grupo #tree
em um elemento <defs>
, a árvore não será mais renderizada.
<svg width="500.79px" height="200px" viewBox="0 0 500.79 200">
<style type="text/css">
#leaves{fill:#8CC63F;}
#bark{fill:#A27729;}
</style>
<defs>
<g id="tree">
<!-- ... -->
</g>
</defs>
</svg>
Agora a árvore serve como template. Nós podemos usá-la utilizando o elemento <use>
, exatamente como faríamos com qualquer elemento. A única diferença nesse caso é que os atributos x e y agora são relativos ao sistema de coordenadas.
Por exemplo, se quisermos criar três cópias dessa árvore e posicioná-las no SVG, e assumindo neste caso que o sistema de coordenadas bate com a largura e altura da viewport, nós teremos o seguinte resultado com este código:
<use xlink:href="#tree" x="50" y="100" />
<use xlink:href="#tree" x="200" y="100" />
<use xlink:href="#tree" x="350" y="100" />
Como você pode ver na imagem acima, cada uma das árvores foi posicionada relativamente a origem do sistema de coordenadas, que nesse caso é o canto superior esquerdo do SVG.
Quando você usa o <defs>
para reutilizar o elemento, você pode aplicar diferentes estilos e cores de preenchimento para cada árvore individualmente. Portanto, o <defs>
é ótimo para criar um template mínimo, para que este seja estilizado depois, conforme necessário. Olha a maravilha do nosso Atomic Design sendo descrito aqui.
Agrupando elementos com o <symbol>
O elemento <symbol>
é similar ao elemento <g>
, já que possibilita uma maneira de agrupar elementos. Porém, ele difere do grupo em duas coisas:
- O elemento
<symbol>
não é renderizado. Ele é similar ao<defs>
dessa maneira. E só é renderizado quando utilizado. - O elemento
< symbol>
pode ter sua própria viewBox e preserveAspectRatio. (Ainda não falei detalhadamente sobre eles, mas é importante saber que eles definem o espaço que irá ocupar e comportamento sobre a proporção tomada, respectivamente.)
O <symbol>
é mais indicado para definir elementos reutilizáveis. E também serve como template para ser instanciado pelo elemento <use>
. E tendo atributos individuais, como a viewBox
e o preserveAspectRatio
, ele pode dimensionar para qualquer local em que for instanciado, deixando ele ainda mais independente, ou seja, mais próximo do Atomic Design.
Leu tudo? Entendeu mais ou menos os conceitos de <g>
, <use>
, <defs>
e <symbol>
? Então como prêmio, veja esse lindo filhotinho, relaxa um pouco, se estiver cansado, levanta, pega um café, dá um andadinha e volta, porque ainda não acabou!! =)
Mas como assim Atomic Design? O que é essa bosta? E por que você tanto fala disso?
O Atomic Design é um conceito criado pelo Brad Frost fortemente influenciado por isso:
"We're not designing pages, we're designing system of components." - Stephen Hay
Esse pensamento que faz o motor do Atomic Design funcionar, nós não estamos desenvolvendo páginas e sim um sistema de componentes. E esse sistema pode ser dividido em várias partes, de acordo com cada idealizador, o pensamento original possui:
- Átomos
- Moléculas
- Organismos
- Templates
- Páginas
Para entender ainda melhor sobre todos os conceitos, leia o post do criador Brad Frost.
Mas voltando, por que eu estou falando disso no meio de um post sobre SVG?
Como pôde ver durante todo o post, eu bati na tecla da utilização de componentes reutilizáveis, o que o SVG já faz por natureza. Aqui eu vou fazer uma mini mini divagação de alguns conceitos sobre isso e em outros posts, eu vou começar a mostrar claramente esses conceitos.
Átomos
Átomos são as partes básicas. Aplicando em SVG, seriam os elementos básicos como
<circle>
,<path>
,<rect>
.
Moléculas
São nas moléculas q/ue as coisas ficam mais interessantes, quando combinamos alguns átomos para formar pequenos grupos. Seria como o grupo de folhas do exemplo da árvore.
Organismos
As moléculas criam esses pequenos grupos, que podem se unir e formar organismos maiores, compostos de várias moléculas. Seria o grupo que contém toda a árvore, tendo como moléculas, o grupo das folhas e o grupo do caule.
Templates
O template seria já a junção de todos os organismos para formar um componente reutilizável e customizável. Seria o nosso
<defs>
ou<symbol>
,
Páginas
São as instâncias dos templates, já possuindo sua aparência definida e informações reais. Seria o nosso
<use>
chamando um template do<defs>
já com seus estilos definidos.
Bom, isso é só uma viagem minha, através de alguns conceitos que eu gosto e de algumas conversas que tenho com alguns desenvolvedores. Espero que tenham viajado um pouquinho comigo e curtido um pouco dessa ideia. Nos próximos posts já começarei a pôr tudo isso em prática e aí iremos ver cada vez mais como tudo funciona, parece difícil, mas é moleziiinha =)